quarta-feira, 8 de junho de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Episódio 5 - O Cajado de Elegast

Saul ainda estava extasiado com os acontecimentos daquela noite. Quem era aquela senhora que ele nunca viu e de repente aparece o transportando para outro lugar? De fato, ela era mestre nas antigas artes. A sutileza dos movimentos para conjurar os encantamentos eram no mínimo, belos. À volta deles o que se via era uma floresta escura muito densa, com uma fogueira providencialmente acesa por um encantamento. A senhora baixinha e de óculos enormes o trouxera até ali. Saul mal podia se conter, queria respostas e começou a inquirir a velha:
- Me desculpe, mas quem é a senhora? Onde estamos?
- Ah! a juventude, quisera eu poder beber de sua fonte novamente - resmungou a senhora sem se fazer entender. Saul coçou a cabeça e meio impaciente insistiu:
- Senhora, algo aconteceu a pouco e não sei o que é, de repente você aparece me trazendo a este lugar. Preciso saber no mínimo quem é! - a velha ajeitou os óculos pesados em um movimento suave, esboçou um sorriso e replicou:
- Eu sou sua avó, meu querido.
A cor da pele de Saul sumiu e ele quase desfaleceu inconsciente depois de ouvir a revelação. Tratou de se sentar rapidamente até que o efeito passasse.
- Meu nome é Gerda Hexe, sou mãe de Elizabeth, sua mãe. Infelizmente não pude conhecê-lo até hoje devido a um desentendimento com sua mãe. Mas nunca é tarde não é!? - sorriu como se tudo aquilo já era previsto de acontecer e continuou:
- Estamos na floresta de Saeftinghe a leste de Zeeuws-Vlaanderen na Finlândia. Perto daqui havia um vilarejo, cujo nome foi dado a esta floresta, que foi totalmente inundado pelas águas do mar. Lá nasceram os primeiros do nosso clã.
- Vovó? Eu pensei que você já havia falecido. Minha mãe nunca me deu detalhes do que houve entre vocês - Saul recobrara a avidez e já se sentia a vontade com Gerda.
- Este é um assunto para outra hora meu querido - cortou-o de repente - agora precisamos nos apressar para ter uma chance de consertar o que você fez hoje.
- O que foi que eu fiz? Por um momento me sentia tão bem. Pensei ter expurgado todo mal que tinha dentro de mim. Pelo menos era o que o encantamento prometia - explicou aflito.
- É um erro comum entre iniciantes nas antigas artes. - parou um pouco e refletiu, depois de um longo suspiro continuou - A tradução correta não é "libertar o usuário das mazelas humanas" como você deve bem ter lido e sim: Libertar o Causador das Mazelas Humanas.
- Então, aquela figura que se mostrou para mim agora a pouco é...- completou Saul horrorizado.
- Seu nome é Kopeus e é muito poderoso. Ele vai tentar libertar seus companheiros antes de fazer qualquer outra coisa. Quando estiver com os do seu tipo, será invencível. Eu já lutei uma vez contra alguns de seus semelhantes para salvar um vilarejo há muito tempo atrás.
- Nossa, e a senhora conseguiu derrotá-lo?
- O mundo ainda existe não é meu jovem - sorriu Gerda, desdenhando a inocência do garoto. Ela então se levantou e em um tom sério começou a explicar:
- Preste muita atenção Saul, tenho que compartilhar certas coisas com você agora para que esteja preparado no momento em que encontrarmos com Kopeus. - Saul consentiu com um aceno de cabeça e Gerda continuou:
- Saeftinghe foi o primeiro lugar onde ele apareceu. Na ocasião, os primeiros mestres nas antigas artes, conseguiram contê-lo usando o Cajado de Elegast. O Cajado é um artefato muito antigo deixado pelo rei dos elfos para proteção do nosso clã.
- E esse Cajado ainda existe vovó?
- Sim. Ele está na cidade, que agora descansa debaixo das águas do mar Scheldt. Apenas sereias conseguem entrar na cidade, que está protegida com um feitiço.
Saul já não se via surpreso com a descoberta da existência de seres como elfos e sereias. As últimas horas já haviam lhe mostrado o quanto desconhece do mundo oculto que começara a desvendar. Gerda continuou:
- Não adianta irmos agora pois sereias são criaturas diurnas, e não gostaria de incomodá-las por motivo algum. Vamos descansar agora e amanhã na primeira hora iremos até a costa.
Os dois foram se deitar, mas Saul não conseguia dormir. A ansiedade, medo e outras sensações o consumiam e não o deixavam relaxar. Gerda roncava como se nada tivesse acontecendo. Essa foi a noite mais longa da vida de Saul.
Quando enfim raiou o dia, eles levantaram e trataram de seguir rumo a costa para recuperar o Cajado. Ao chegar lá, Gerda arregaçou uma das mangas, colocou a mão no chão e disse:
- Merenneito, tule luokseni!
Um canto suave e hipnotizante começou a soar. O mar ficou calmo e a sereia apareceu surgindo bem devagar e vindo de encontro ao barranco. Gerda então pediu para que ela trouxesse o Cajado quando a sereia advertiu:
- As torres cairão, as pessoas não mais usarão seda como vestes e cavalos não terão armaduras de prata. Dor e sofrimento eu vejo na escuridão. - e submergiu.
- Onde ela foi vovó? - Saul já estava aflito.
- Calma meu querido, tenha paciência.
Passado alguns minutos, a sereia retornou com o Cajado na mão. Entregou para Gerda e emitiu um silvo agudo e foi embora. Quando o Cajado tocou a mão de Gerda, se transformou em uma bengala comum dos tempos modernos. Saul ficou surpreso e ao mesmo tempo tonto pelo grito da sereia. A senhora baixinha se virou para seu neto e disse:
- Saul, agora vai começar a tarefa mais difícil de nossas vidas. Esteja preparado. - dito isto, eles desapareceram daquele local.

Enquanto isso, não muito longe dali, uma menina magrela anda sozinha por uma estrada deserta de terra do interior. Chegou a um poço abandonado perto de um vilarejo, levantou as mãos para o alto e proclamou palavras impronunciáveis. A boca do poço se iluminou e três formas saíram rastejando lá de dentro. Quando o processo terminou a menina então falou:
- Kateus, Laiskiainen, Massaily. Que bom revê-los.

(continua...)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Feliz Aniversário

Nesta data, 25 de março de 2011, este "mais-um-blog-na-vasta-multidão-de-blogs-pessoais-que-um-dia-foi-coletivo" completa três anos. Incrível não!? Não sei se me emociono ou me revolto com a velocidade cada vez maior que o tempo passa (ao menos a percepção, claro).
Tudo tem um propósito, em uma forma lógica de pensamento, ou pelo menos deveria. O objetivo inicial deste blog aqui era compartilhar com o mundo as histórias intrigantes (zzZZzZzzZZz...) que ocorreram com um certo grupo de amigos. Como o princípio básico deste mesmo grupo de amigos é a eterna busca por novidades, enquanto este espaço foi novidade, durou. Logo veio a rotina e destruiu a ideia. Este que vos escreve desde então, tomou para si a responsabilidade (drama) de continuar a escrever neste papel virtual e o tem feito sem regularidade desde então.
O foco já não é mais o mesmo e aqui jáz agora um amontoado de palavras que as vezes me ocorrem em momentos dos mais variados (isso mesmo, a po##@ de um diário, sem o compromisso que o nome impõe).  Uma meia dúzia de pessoas acompanham e isso nunca é lembrado na hora de escrever, por isso as vezes coisas estranhas são escritas.
De fato, não pensei em chegar tão longe (drama, o retorno) e penso que o único motivo em continuar é a falta de comprometimento que tenho com a atualização. Enfim, parabéns pra mim, para os fundadores, e principalmente para o cara que um dia gritou a todo pulmão "Jiba Jibóiaaaaaa!!!" e pulou dentro de um rio e começou toda essa cadeia de eventos que culminou na existência desse blog.
Vai acompanhando aí que um dia, quem sabe, surge outra atualização de algo bom ou ruim.

É bem assim mesmo, relatividade é tudo.


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Shuffle

Penso nela enquanto passeio pela minha coleção de músicas [Emerson, Lake & Palmer - Lucky Man].
A imagino falando com as amigas em sair e eu aqui meio deslocado sentindo pena de mim mesmo [Aerosmith - Hole in my Soul].
Devaneio a possibilidade de me incluir nesse passeio [Coldplay - Speed of Sound].
Penso em como pode ser bom e como seria se tudo desse certo [Rush - In the Mood].
E, lógico, penso no que poderia dar errado [AC/DC - Highway to Hell].
De repente me lembro que não sou o tipo que toma a iniciativa [Dream Theater - Silent Man].
Mesmo porque sou usário do transporte sobre duas rodas, e o tempo essa semana não está ajudando [Creedence Clearwater Revival - Who'll Stop the Rain].
Volto do momento em que paramos no tempo e comteplamos o vazio mesmo de olhos abertos [Apocalyptica - Grace].
Nada mudou, tudo foi uma coincidência e posso voltar à rotina [Sonic Youth - Theresa's Sound World].
Pena que não concordo com o título da próxima música, adeus [Rolling Stones - Time is on my Side].

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Para ti, Doxo.

Apenas para deixar bem claro, e de certa forma registrado também, paradoxos sempre irão me intrigar. A atenção que eles recebem de mim as vezes chega à beira do desnecessário. Um pouco por acreditar que seres humanos são um emaranhado deles, com pernas, braços, etecétera. Por exemplo o "doxo" (tratamento carinhoso que dou a eles) que me motivou a escrever este trecho em uma mesa de bar a partir do meu telefone (sim, sou nerd). Dormir. É uma perda de tempo, mas se não tiver algum tipo de descanço, isso acabaria por afetar a minha saúde. O que, de fato, me impediria de aproveitar dos benefícios de estar sempre acordado. Contudo, certo de que nada é para sempre (inclusive eu), valeria a pena? Outra hora experimento, esta última cerveja realmente deu sono, ou foi pensar no assunto? Bem, postulemos nossas opiniões em outra hora mais oportuna. ;-)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Motocicleta

Ontem cortei um pouco do meu cabelo,
sem fazer nenhuma expressão,
já que ninguém vai perceber mesmo.
Quanto tempo faz que não saio deste lugar?
Fecho os olhos e escuto o barulho da chuva caindo.
Com certeza, acima das nuvens há uma tesoura
aguardando a luz de um novo dia ou da calmaria.
Venha motocicleta!
Agora mesmo!
Venha, motocicleta.
Vamos ver aquela pessoa.

Baseado na música Jitensha by Ore Ska Band

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Episódio 4 - Syzygy



Não tenho dúvidas em colocar dessa forma: O treinamento era muito chato. Principalmente para alcançar o fundamento essencial nas antigas artes, que é balancear os cinco elementos dentro de você. Terra, fogo, água, ar e espírito tem de ser cuidadosamente equilibrados para que os encantamentos funcionem. Além disso, tem os símbolos sagrados que são utilizados em conjunto com essas energias para amplificar ou focar determinada característica de um elemento.
A ideia de professora da minha mãe não era nem parecida com a que eu estava acostumado. Se não tivesse um dom autodidata, acho que não conseguiria chegar nos níveis avançados das artes. O discursso dela era sempre o mesmo: 
Você não é bom o bastante. - dizia, seca como uma folha de outono.
Ao final de dois meses já conseguia realizar encantamentos de nível cinco, dos seis existentes. Mesmo minha mãe tinha dificuldades em realizar alguns nível seis por não ter completado o treinamento com minha avó.
Durante o tempo em que passamos juntos fiz muitas perguntas sobre minha avó para minha mãe. Porém, ela nunca se mostrou disposta a responder muita coisa. O que consegui extrair dela foi o nome, Gerda, e porque elas brigaram. Algo envolvendo uma tarefa que minha mãe não concordava que era dela e sim da minha avó.
Chegou o período das férias escolares e minha mãe teve que se ausentar para resolver questões de negócios inacabados que meu pai deixou em outras cidades. Dessa forma eu fiquei sozinho e claro, estudando as antigas artes. 
Vagando pela biblioteca entulhada e poerenta, já tarde da noite, me deparei com um livro bem antigo que logo comecei a desvendar. O livro inteiro era sobre um encantamento de nível seis muito poderoso, que ao meu entendimento, era capaz de libertar o usuário de algo que poderia ser traduzido como "as mazelas humanas". 
Era interessante que, apesar de ser um nível seis, era muito fácil de executar, de acordo com as instruções. O problema maior era ter que esperar um Syzygy, que é um alinhamento de três ou mais planetas em linha reta.
Consultando os mapas, descobri que no dia posterior, por coincidência, teria um syzygy entre Saturno, Urano e Netuno. Abismando pela tamanha casualidade, pensei ser um sinal para que eu tentasse realizar o nível seis.
Calculei o horário do alinhamento, reuni os materiais necessários e treinei o desenho dos símbolos que amplificavam a energia do espírito. Então, no dia treze de maio, sexta-feira, às treze horas treze minutos e treze segundos realizei o encantamento.
Uma coluna de luz saiu do chão sob mim e foi até o céu. Vi uma cópia fantasmagórica minha subir junto com a luz. Quando o fenômeno cessou, o nimbo que se formou foi sugado pelo frasco que eu tinha preparado e deixado no chão segundo as instruções do livro.
A sensação de desprendimento, um ar de superioridade tomou conta de minhas sinapses. Era como nascer denovo, com os sentidos mais aguçados. Durante a primeira semana tudo foi muito novo e prazeroso. No entanto,  efeitos colaterais começaram a surgir. Comecei a ficar muito agressivo, ora comia como um leitão, ora não tinha disposição nem para levantar da cama.
A partir do nono dia comecei a ouvi-lo. Achei que estava ficando louco, delirante ou que era mais um sintoma do encantamento.
No décimo dia eu abri o frasco.


(continua...)